O Brasil amanheceu em festa. Pelo menos para a grande maioria da população que conseguiu entender a importância de eleger Dilma para que o Brasil continue avançando, sobretudo no que diz respeito à inclusão social.
Entretanto, foi com grande tristeza que vimos explodir nas mídias sociais o preconceito, sobretudo contra os nordestinos, acusados de serem os responsáveis pela eleição de Dilma.
Se por um lado as postagens no twitter,por exemplo, são assustadoras, por seu caráter preconceituoso, por outro lado, sermos responsabilizados pela vitória de Dilma é, no mínimo, uma honra.
País de dimensão continental, com uma população formada pela mistura de diversas raças, é exatamente esta mistura étnica que dá ao nosso país essa graça e beleza na diversidade cultural.
Nordestina com muito orgulho, pernambucana com muita honra, não consigo entender por que as pessoas se incomodam com a diminuição da pobreza, da miséria, com a ascensão social.
Como não ficar indignada com as postagens que se referem aos nordestinos como se fossem a escória do país.
Com nomes floreados com “Y” e “THs” ou sobrenomes estrangeiros, postam frases absurdas do tipo: por que não devolvem o Nordeste para a África, numa demonstração do mais baixo e vulgar preconceito: o racial. Graças a Deus somos descentes dos negros africanos, graças a Deus em nossas veias corre o sangue dos que lutaram pela liberdade, pelo direito de serem tratados como seres humanos.
Graças a Deus somos descentes dos escravizados e não dos nobres escravagistas.
Somos nordestinos, povo sofrido, castigado pela seca no sertão e pela exploração dos grandes proprietários de terra.
Fomos nós que arregaçamos as mangas e ajudamos a construir este país. Porque nordestino vai à luta. Não fica sentado esperando as coisas caírem do céu. Não nascemos em berço de ouro. Nascemos na manjedoura, por falta de espaço nas casas abastadas.
Somos nordestinos sim! Foi daqui que saiu o homem que mudou a história deste país. O homem que não esperou o tal do bolo crescer para depois repartir.
Os supermercados estão cada vez mais cheios. As ruas, cada vez mais congestionadas. Até os aviões estão ficando lotados.
Este operário, que perdeu um dedo trabalhando, que passou fome e migrou para São Paulo, com sua mãe e irmãos em busca de melhores condições de vida, está conseguindo melhorar a vida de milhões de brasileiros sem que eles tenham que fugir de sua terra.
Habitantes das regiões ricas e prósperas – Sul e Sudeste: vocês deviam comemorar a vitória de Dilma. Ela é uma garantia que menos nordestinos vão migrar para seus preciosos estados. Garanto que, tendo condições de sobreviver com dignidade em sua terra, nenhum nordestino vai querer sair dela.
Quem vai querer trocar a água morninha de nossas praias pelas águas geladas lá de baixo?
“Que país é esse onde nordestino pensa que é gente?”, postou um desses nomes com “LLs” e sobrenome estrangeiro. Quanto rancor, quanto ódio, quanto preconceito.
Somos gente sim. E da melhor qualidade. Somos um povo alegre, trabalhador e, sobretudo, acolhedor. Podem vir pra cá que serão bem recebidos. Não temos preconceitos contra pessoas alienadas e despolitizadas. Só temos pena. E daí, vamos sempre procurar ajudar essas pessoas a encontrarem um sentido para suas vidas vazias.
Outro dia uma vizinha da minha mãe disse a ela que iria votar em Serra porque não suporta mais ir ao shopping ou ao supermercado e ver toda aquela gente pobre comprando.
A família do amigo de uma filha minha queria que Serra ganhasse porque não admite que seus empregados tenham melhores condições de vida, porque ficam muito exigentes em relação aos seus direitos.
O que essas pessoas querem é a população passando fome, morando em barracos e sendo dependentes deles. Desta forma, podem pagar salários mais baixos para sobrar mais dinheiro para comprar uísque escocês, vinho português e picanha argentina.
Por que será que eles são assim, egoístas, amargos e preconceituosos? A ponto de sugerir que matem nordestinos afogados em uma postagem de tuiter?
Bem, o que se passa na cabeça destas pessoas, não podemos avaliar. Eu, pelo menos, não consigo. Não consigo imaginar estes sentimentos de repulsa a seres humanos que nasceram em um outro lugar. Não consigo imaginar uma raiva que deseje tanto mal.
Mas, de qualquer forma, em meio a todo este ódio, a este rancor que não sabemos explicar, diante deste Brasil que nos assusta com ameaças, fica alguma coisa boa: nós, nordestinos, sermos responsabilizados pela eleição de Dilma. Poderia haver honra maior?
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