"Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus, Não somos mais quem nós éramos." Martin Luther King

Não somos ainda o país que sonhamos.
Ainda estamos longe de ser o país que queremos.
Mas, com toda certeza, hoje somos um país melhor do que éramos a há oito anos.

Este blog é para quem não quer cruzar os braços e quer contribuir para deixar um Brasil
melhor do que encontrou.

Se você ainda está em dúvida entre qual modelo de governo é melhor para o país,
responda a esta pergunta: que país você quer deixar para o futuro:
Um país de todos ou apenas um país de poucos?

sábado, 30 de outubro de 2010

AOS CMPANHEIROS DE ESQUERDA QUE, COMO TODOS OS BRASILEIROS ESTÃO DIANTE DSS URNAS NO DIA 31

por Maurício Abdalla *

Na universidade em que leciono há pichações em vários locais com os seguintes dizeres: "nossos sonhos não cabem na urna: vote nulo!". A frase tem efeito e, por isso, pode ser convincente. Principalmente porque todos nós, da esquerda, concordamos com a premissa de que nossa utopia e nossos sonhos jamais se realizarão apenas através de eleições. Eu, de minha parte, nunca depositei minhas esperanças no processo eleitoral e acredito que a priorização excessiva que os movimentos sociais e partidos de esquerda lhe deram foi a principal responsável pela desarticulação da luta popular.
A frase da pichação tem tido atualmente uma variação: nossos sonhos não cabem em Serra ou em Dilma: vote nulo! O sentido da frase é o mesmo. Mas contém a mesma falácia, ou seja, é um argumento que parece verdadeiro, mas não é. Se tenho que rejeitar tudo aquilo no qual meus sonhos não cabem, tornar-se-iam verdadeiras todas as variações do argumento. Vejam bem: nossos sonhos não cabem em um prato de comida: não comam! Nossos sonhos não cabem em um curso superior: não freqüentem a universidade! Nossos sonhos não cabem em um ônibus: andemos a pé! Etc.
Não é verdade que nossas utopias não cabem em tantos lugares, mas nem por isso abrimos mão da necessidade de se usá-los?
O que precisamos refletir, neste momento, é que votar não é fazer a revolução, tanto quanto não é impedi-la de um dia acontecer. A opção que farei nas urnas não afetará minhas convicções de esquerda e nem minha utopia revolucionária. Não estamos decidindo sobre o capitalismo ou o socialismo, mas tão somente em quem vai ocupar o poder nos próximos 4 anos. E, independente de minha decisão de votar ou não, alguém vai ocupá-lo – no caso presente será ou Dilma ou Serra.
É evidente que, dependendo das forças que ocupam o poder, o processo de transformação social pode avançar ou retroceder. A vida das pessoas pode melhorar ou piorar. A relação com outros países pode ser de subserviência ou de autodeterminação. E é aí que a nossa decisão deve se pautar. Parafraseando a frase da pichação, "nossos sonhos não cabem em discursos de esquerda"; eles também têm uma dimensão prático-operacional.
Quem é de esquerda deve ter críticas profundas ao Governo Lula. Sabemos quais são, não precisamos insistir nelas. Mas sabemos também que nenhuma de nossas críticas se assemelha às da extrema-direita. Ou seja, não somos aliados do PSDB e do DEM na oposição ao Governo Lula.
Mas, ser crítico não é ser míope. Somos obrigados a reconhecer que a relação do Governo Lula com os movimentos sociais, se não foi a que desejamos, tampouco se pode comparar com a de FHC. Embora a reforma agrária não tenha sido realizada, o MST não foi combatido ou criminalizado em suas reivindicações. Ao contrário, pôde beneficiar-se de diversos programas para os assentamentos e a agricultura familiar. Os resultados fortalecem a luta social.
Programas que investiram no combate à pobreza extrema são polêmicos, pois podem ser chamados de assistencialistas ou até, para os mais exaltados, como uma espécie de “anestesia que impede o desabrochar do espírito de revolta que favorece a atitude revolucionária”. Caros companheiros, a fome (cuja experiência desconhecemos) não causa revolução. Causa dor, desespero, submissão e a fuga para atividades fora da legalidade. Caso contrário, os grupos de esquerda seriam mais fortes que o narcotráfico, que a economia informal e que a criminalidade.
Além disso, eu que me alimento todos os dias, não quero fazer discurso para os que não comem, não quero dialogar com estômagos em desespero, mas sim com a consciência de cidadãos que, uma vez alimentados, podem sonhar com uma sociedade sem exploradores e explorados. E se o capital não os alimenta, o Estado deve fazê-lo.
E sabemos que não se pode fazer nenhuma transformação profunda em um país sem modificar a correlação de forças no cenário geopolítico. Para tanto, é preciso de um bloco crítico que se interponha aos interesses das grandes potências, principalmente aos EUA, e defenda os interesses dos países periféricos em conjunto com os presidentes populares, como os da Venezuela, Cuba, El Salvador, Bolívia, Equador, Uruguai e outros.
Não podemos negar que Lula teve um grande papel na consolidação deste bloco crítico, por mais que rejeitemos o seu excessivo “jogo de cintura”. Podemos dizer que a coligação PSDB/DEM teria a mesma postura com os países periféricos?
Por esses motivos e por muitos outros, não podemos dizer que o país ficará igual com Dilma ou com Serra. Nem que os movimentos sociais serão indiferentes a um governo ou ao outro.
Portanto, uma coisa é demarcar posicionamentos ideológicos, reafirmar nossas mais profundas convicções revolucionárias, combater o capitalismo com todas as forças e sem capitulação, trabalhar a mobilização popular e lutar pelo socialismo. Outra coisa é apertar dois dígitos em uma urna para escolher o presidente quando só se tem duas opções. São tipos de ações diferentes, não excludentes, mas, de certa forma, relacionadas.
Eu, de minha parte, não quero ter sob minhas costas o peso da omissão, caso Serra e as elites mais atrasadas venham a ocupar o Palácio do Planalto, perseguindo os movimentos sociais, virando as costas para os países periféricos, jogando o peso das crises financeiras nas costas do mais pobres e abandonando os miseráveis a seu próprio destino.
Por isso, voto em Dilma, sem alterar em nada minhas utopias e sem comprometer o meu espírito crítico e meu sonho de um futuro socialista.

*Professor de filosofia da UFES e educador popular.

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